Luiz Barsi Filho, de 83 anos, é hoje o maior investidor individual da bolsa de valores brasileira. Ou seja, é a pessoa que mais tem dinheiro aplicado em ações. Com um patrimônio de 4,2 bilhões de reais, ele entrou nesse mundo há 50 anos, no início da década de 1970. Desde então, vem mantendo o raciocínio: investir em empresas bem administradas e que paguem um bom valor em dividendos, isto é, uma
parcela do lucro dividida entre os acionistas.
Nesta entrevista exclusiva para o TINO, feita com a participação de Deivyd S., de 17 anos, aluno da E. E. PEI Prof. Josué Benedicto Mendes e fundador do canal Investeens, Barsi dá uma dica aos jovens que
querem independência financeira: criem cultura de investimento.
Qual era o seu sonho quando criança?
Eu tinha muita vontade de ajudar minha mãe. Ela ficou viúva quando eu tinha um ano e, na década de 1940, a vida não era tão fácil.
Como começou a investir no mercado de ações?
Entre 1970 e 1971, eu já tinha me formado em contabilidade, economia e direito e cheguei à conclusão de que a previdência nunca me entregaria uma renda mensal para uma vida digna. Como eu tinha essa familiaridade com o mundo das empresas, decidi comprar ações. Falei para mim mesmo: “Quero ser dono do Banco do Brasil”. Eu sabia que não podia ser dono, mas podia ser parceiro. Não tinha dinheiro para comprar um pacote grande de ações, porém podia comprar um pouquinho. Assim eu comecei.
Qual foi o seu primeiro grande ganho?
Foi com a Cesp (então Centrais Elétricas de São Paulo). Estudei o estatuto da companhia de cabo a rabo e fiz um levantamento detalhado. Consegui fazer esse trabalho chegar às mãos dos diretores da organização. Eles gostaram tanto que quiseram comprar. Quando eu disse que não tinha intenção de vender, eles afirmaram que publicariam com a minha autoria. Eles fizeram 10 mil exemplares de um livrinho chamado Ações Garantem o Futuro, que hoje é o nome da minha empresa. Foi um sucesso, mas teve uma vida curtíssima, porque ninguém naquela época imaginava investir durante 30 anos comprando ações, só eu. No momento em que o governo paulista decidiu investir na extração de petróleo, ele mudou o nome da Cesp para Companhia Energética de São Paulo. As ações que custavam 0,40 foram a 1,70. Eu vendi tudo e comprei outras, que pagavam mais dividendos.
Por que o senhor dá tanta importância aos dividendos?
Quando se investe em renda garantida (eu não falo de renda fixa porque não existe renda fixa no país, você ganha em função do valor aplicado), se você aplica mil, ganha em função de mil. Com ações você ganha em função da quantidade possuída. Se tiver uma ação e a empresa pagar dividendo de um centavo, você ganha um centavo. Se tiver dez ações, ganha dez vezes um centavo. Se tiver um milhão de ações, ganha um milhão de vezes um centavo. Minha estratégia é ter o maior número de ações possível para ter o maior dividendo possível. Com esse pensamento fui investindo nos últimos 50 anos. Em 2021, ganhei R$ 1,015 milhão por dia só em dividendos.
Como o senhor gasta o seu dinheiro?
Minha trajetória me ensinou que eu posso tudo, mas eu não devo tudo. Ensinou a administrar e controlar meu ego. Eu posso comprar 20 Mercedes, mas eu preciso? Não. Para que eu vou comprar, então? O que eu fiz e recomendo aos jovens é que criem uma prioridade. A minha era formar minha carteira de renda mensal. Então, cada vez que ia adquirir algo, eu pensava: “Isso é a minha prioridade? Não. Então não quero”. O que derruba o cidadão é o ego. Há muitos anos, eu tinha o desejo de ter uma Mercedes.
Qual conselho o senhor dá aos jovens que querem investir em ações?
O jovem tem que exercitar a cultura de investimento, ou seja, saber na mão de quem está colocando dinheiro. Se você colocar o seu dinheiro na poupança, ele acaba sendo gerido pelo governo. Se eu comprar ações de uma boa empresa, sei que meu ativo vai estar na mão de grandes gestores, que farão
a companhia crescer. É preciso investir na geração de riqueza. Antes, para saber se a empresa era boa, eu tinha que visitar, ligar para os diretores. Hoje dá para pegar as informações na internet. Está muito mais fácil.
É possível sair de uma origem humilde e atingir um patamar considerando alto?
Eu conheço um cidadão que era engraxate, começou a comprar mil ações por mês e hoje tem um patrimônio bilionário: sou eu. Eu não tinha dinheiro. O que eu tinha era convicção. É preciso ter convicção do que quer, daquilo que deseja, e correr atrás. Quando eu fiz esse projeto de ações para o futuro, eu tive que lutar muito. Hoje eu colho os frutos, só que isso não acontece em cinco minutos, acontece no decorrer de uma vida. O jovem, seja da escola pública ou particular, tem que assumir uma postura de olhar para o futuro, saber onde quer chegar e trabalhar para atingir os objetivos.
O senhor pretende continuar fazendo isso por quanto tempo?
Às vezes me falam: “Poxa, Barsi, você está com 83 anos e ainda trabalha?”. A verdade é que faz 35 anos que eu não trabalho. Ações são o meu hobby. Eu brinco que comprar ações é o meu tricô.
Você realizou o desejo de ser dono do Banco do Brasil?
Hoje eu sou maior acionista pessoa física do Banco do Brasil.