
Já pensou nos possíveis impactos de zerar o preço das passagens do transporte público? Medidas como essa costumam ser vistas como populistas ou prejudiciais às contas públicas. Mas Roberto Andrés, repórter especial da revista Piauí, mostra que a realidade pode ser bem diferente.
Estudos recentes em cidades brasileiras que adotaram o transporte gratuito revelam não só um aumento expressivo no número de passageiros, como também redução nas emissões de dióxido de carbono (CO₂), impulsos econômicos locais e até mais eficiência nos gastos públicos.
O Brasil na dianteira
Atualmente, cerca de 8 milhões de pessoas desfrutam de transporte público gratuito no Brasil. São 136 cidades com tarifa zerada, além de seis capitais, que aplicam a medida em fins de semana e feriados. O país é líder global nessa iniciativa, o que dá aos pesquisadores dados valiosos para calcular os efeitos da política pública na prática.
O que se observou após a implantação da medida foi um aumento de três a quatro vezes no número de passageiros, queda no trânsito e nos congestionamentos, menos faltas em consultas do SUS e maior frequência em cursos noturnos. A mobilidade melhorou — e a vida também.
Emissões reduzidas
Nessas localidades foi constatada uma redução de 4,1% nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), revelando o potencial da simples ampliação do uso de transporte coletivo, já que essas cidades não dispõem de frotas eletrificadas, como já ocorre em outros países.
Pode até parecer um número baixo, mas a reportagem explica que é um valor significativo como resultado de uma única política pública.
A economia pega carona
Em uma matéria feita em fevereiro deste ano, Andrés analisa o impacto da política na cidade de Caucaia (CE). Lá, por exemplo, a gratuidade no transporte resultou em um aumento de 30% nas vendas do comércio local, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas.
Para a prefeitura, a situação também foi benéfica. A arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cresceu 8% no primeiro ano da medida. Com mais dinheiro no bolso — que antes ia para a passagem — a população passou a consumir mais. O município também registrou um aumento de 3,2% nos empregos.
Em São Caetano do Sul (SP), onde as tarifas foram zeradas em novembro de 2023, a eficiência do gasto público aumentou. O número de passageiros saltou de 460 mil, pagando 5 reais, para 1,75 milhão com tarifa zero. A maior utilização fora dos horários de pico, proporcionada pela gratuidade, melhorou a oferta e o aproveitamento da frota.
Mais renda, mais movimento
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o transporte representa o segundo maior gasto das famílias brasileiras (20,7%), atrás apenas da alimentação (21,9%). Reduzir esse peso no orçamento não é só um alívio no bolso dos brasileiros, como também uma injeção de recursos na economia local — além de ampliar o acesso à cidade, ao trabalho, à educação e à saúde.
Fonte: Piauí.