
Dados do Banco Central (BC) mostram que quase 30% da renda das famílias brasileiras é destinada ao pagamento de dívidas. Desse valor, cerca de 10% corresponde ao pagamento de juros — o equivalente a um terço do total. É o maior desde 2005.
Quando alguém quer comprar algo que não consegue pagar à vista — como um carro, uma geladeira ou roupas —, muitas vezes recorre ao crédito. Isso significa pegar dinheiro emprestado de um banco ou instituição financeira e devolver depois, geralmente em parcelas. Assim, a dívida é esse compromisso assumido, enquanto os juros são a taxa cobrada pelo uso do dinheiro emprestado.
Segundo Rafael Schiozer, professor titular de finanças da FGV-EAESP, todas as famílias do mundo se endividam em algum grau. Na Noruega, por exemplo, o comprometimento da renda familiar passa de 20%, de acordo com o Banco de Compensações Internacionais (BIS) e o Banco Central.
A diferença é que, no Brasil, grande parte das dívidas está ligada ao cartão de crédito e ao empréstimo pessoal, justamente as modalidades com as maiores taxas, que trazem menos garantias aos bancos e, portanto, são muito mais caras.
Dívidas x renda
Um estudo da FecomercioSP mostra que, apesar do crescimento do endividamento, a renda não tem acompanhado o mesmo ritmo. Entre 2023 e 2024, os gastos das famílias brasileiras com juros aumentaram 20,5%. Entretanto, nesse mesmo período, a renda cresceu apenas 3,2%. Ou seja, o que as pessoas ganham não cobre o custo crescente da dívida.
Longo prazo
Para Antonio Kopschitz, do Ipea, a saída passa pela educação financeira. “O Brasil precisa de mais educação financeira. Já melhorou muito, existe uma iniciativa do Banco Central, por exemplo, nas escolas. Mas é necessário também um comportamento individual das pessoas, de se conscientizarem de que tomar crédito de curto prazo é mais caro.”
Nos últimos anos, Fábio Pina, assessor econômico da FecomercioSP, observa que as melhores condições de emprego e renda facilitaram o acesso ao crédito. Porém, Schiozer alerta que, segundo estudo do BC, esse efeito positivo é apenas de curto prazo. “Depois de dois, três anos, as pessoas tiveram uma redução de consumo muito maior do que o aumento logo após tomarem crédito.”
Fonte: Folha de S.Paulo.