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Por que o problema no balanço das Americanas afetou a bolsa

O mercado financeiro depende da confiança dos investidores. É isso que faz com que as pessoas decidam se tornar "sócias" das empresas, comprando suas ações
12 de janeiro de 2023 em Mercado

Após anunciar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões no balanço mais recente, as Americanas, uma das maiores varejistas brasileiras, viu as ações derreterem na bolsa de valores, perdendo R$ 8,3 bi de valor de mercado em 12 de janeiro.

O problema foi revelado no dia anterior por Sergio Rial, que acabara de assumir o posto de CEO da companhia. Onze dias depois de chegar ao comando, o executivo renunciou ao cargo, alegando ter detectado informações inconsistentes no balanço.

Mas não foram somente as ações da Americanas que registraram queda. Outras varejistas, como Magalu e Via abriram o pregão caindo muito forte e acabaram afetadas pelo problema na concorrente. Também registraram queda ações de outras empresas integrantes do 3G, grupo controlador das Americanas. Entre elas, a Ambev, fabricante de bebidas, e a Zamp, que detém participação no Burger King.

Efeito dominó

O mercado financeiro passou o dia todo agitado, buscando respostas que ainda precisam ser dadas pela companhia sobre o balanço.

Mas, afinal, por que o mercado financeiro age desse modo? Por que um evento restrito a uma companhia é capaz de causar um efeito dominó em todo o setor?

A resposta pode ser resumida em uma palavra: confiança. O mercado financeiro depende da confiança dos investidores. É isso que faz com que as pessoas decidam se tornar “sócias” das empresas, comprando suas ações.

Para aplicar dinheiro na companhia, o investidor precisa confiar nos números que ela apresenta. Ou seja, precisa ter certeza de que o balanço condiz com a realidade. Se falta confiança, o investidor vai embora. “Se essa operação não for esclarecida e se tornar muito transparente, o mercado todo estará em risco”, diz Roberto Kanter, professor do MBA da FGV (Fundação Getulio Vargas) e diretor do Canal Vertical.

As dúvidas que passam pela cabeça do investidor são: se a empresa comete essa falha, quais outras comete? Se a auditoria não vê essa falha, quais outras não vê? Será essa uma prática de outras companhias? Quando questionamentos assim começam a surgir, o mercado fica em polvorosa, com o investidor receoso sobre o que fazer. “Neste mundo interligado, quando uma empresa de um setor faz uma má prática, não adianta achar que o resto está blindado”, diz Kanter.

A importância da governança

Para evitar que as empresas divulguem informação inexatas, há instituições que estabelecem regras, criam leis e fiscalizam se as companhias estão cumprindo. Uma delas é a CVM, a Comissão de Valores Mobiliários. Além disso, existem as auditorias, que precisam ser independentes e checam a consistência dos números.

Esse controle e respeito às regras é o que o mercado chama de governança. Cada vez mais as empresas têm sido cobradas a ser transparentes não só na apresentação dos resultados, como também nas ações.

Como prevenir

Kanter defende que para evitar que erros como esse aconteçam, os órgãos regulatórios têm que ser mais rígidos. “As práticas de compliance precisam ser mais fortes, os comitês devem ser mais atuantes e as áreas financeiras têm que ter melhor treinamento e melhores sistemas”, afirma.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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