“Mais do que planejamento, é preciso ter capacidade de se adaptar”

David Schurmann, cineasta e CEO das empresas da família Schurmann, conta como supera imprevistos para atingir seus objetivos mesmo em alto-mar
7 de fevereiro de 2023 em Edições Impressas, Entrevista

O início do ano é uma época propícia para planejar, traçar metas, estabelecer prioridades e começar a colocar em prática ações para concretizar objetivos. Quando é dada a largada a um projeto pessoal ou mesmo um plano coletivo, a energia está a mil e a disposição é total. Mas é difícil manter o ritmo e não desanimar quando obstáculos começam a surgir. Como manter a disciplina e não desviar da rota em momentos como esse?

À procura dessa resposta, conversamos com o cineasta David Schurmann, segundo filho da família Schurmann, que, em 1984, partiu de Florianópolis para uma viagem de dez anos pelos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Hoje ele é o CEO das empresas da família e atua na expedição Voz dos Oceanos, que busca alertar o mundo sobre os riscos da poluição plástica nos mares.

O nascimento de David foi o pontapé para o planejamento da primeira viagem da família, que decidiu zarpar quando o filho completasse 10 anos. Em consequência disso, o cineasta cresceu se planejando e segue fazendo isso até hoje.

Nesta conversa com Ana Luisa S.L, estudante do 1 anos do ensino médio na E.E.Professor Orlando Geríbola P.E.I., ele deu dicas valiosas não só sobre planejamento, como também sobre disciplina e a importância de se adaptar às adversidades e não desistir.

Que dica você daria para quem quer começar a se planejar?

O planejamento para quem é do mar é extremo e superdetalhado. Nós nos planejamos às vezes dois anos, três anos para fazer uma expedição. Os meus pais planejaram dez anos para fazer a primeira. Sempre damos início no papel, determinando tempo e custo. Depois vamos desdobrando cada item passo a passo. A gente começa grande, porque ninguém bota barreira no sonho, depois coloca na mesa e vai estruturando de acordo com a realidade.

E sobre os imprevistos que aparecem, como você se reorganiza nesses casos?

Normalmente, o navegador é uma pessoa que planeja muito. Quando você está no meio do mar e esquece de comprar uma caixa de fósforo, não tem uma loja da esquina para comprar. Então tudo é planejado ao máximo e em detalhes. É preciso saber o quê e quanto vai levar, porque os imprevistos em uma expedição acontecem todo dia. É um equipamento que quebra, o tempo que muda… O barco não é tão rápido quanto o avião, que desvia da tempestade. O veleiro não consegue fazer isso, pois é muito mais lento, então, a gente tem que encarar as tempestades.

E como você mantém a disciplina para permanecer no plano?

As pessoas têm um pensamento errado de que uma vez que elas se planejam, as coisas vão ocorrer de acordo com o esperado. E não é assim. Então, mais do que planejamento, é preciso ter capacidade de se adaptar sem perder o foco e a visão sobre aonde quer chegar.

Isso inclui a parte financeira?

A gente tem que ter uma grande capacidade de adaptação. Muitas vezes isso significa cortes. Na última expedição eu tinha planos de comprar os melhores equipamentos de filmagem, mas o dólar subiu pouco antes da viagem. Tivemos que refazer o plano com equipamento usado. Temos que fazer o custo caber no planejamento para a missão não deixar de acontecer. Muita gente desiste quando o planejamento não está indo como previsto. Aqui não tem essa.

Desistir não é uma opção?

Já aconteceu de desistirmos de algum projeto, mas isso ocorre quando os planos ainda estão no papel. A hora em que damos início a um projeto de fato, a gente coloca todas as energias e se adapta para ele acontecer.

Viver dentro de um veleiro virou uma tradição de família?

É uma tradição no sentido de nossa motivação. Hoje nós estamos na Voz dos Oceanos, que é uma expedição que surgiu muito da vontade de toda a família e é liderada pelo meu irmão e eu. Não é só um sonho nosso. É um sonho nosso para todo mundo com todo mundo, para conseguir salvar os oceanos. Meu sonho é que, daqui dez anos, meu filho, que hoje tem 14 anos, possa ver o mar como eu vi: limpo, sem plástico, sem poluição nenhuma.

Ao longo dos anos, a poluição cresceu muito no mar?

Sim, principalmente nos últimos 15, 20 anos. Começamos a encontrar grandes avenidas de lixo muito longe da costa, às vezes depois de dez dias cruzando o oceano.

Como vocês fazem com o lixo dentro do barco?

O lixo orgânico vai para composteiras que temos no veleiro. O reciclável é prensado numa compactadora e guardado até chegarmos a um lugar que tenha um centro de reciclagem, em que fazemos o descarte.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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