
Débora Fortes é Chief Marketing Officer (CMO) da Pismo, empresa de tecnologia bancária que foi adquirida pela Visa, em 2023. Formada em jornalismo e economia, ela construiu uma carreira sólida, que a levou de uma família simples da capital paulista a cargos executivos em empresas multinacionais. Nesta entrevista exclusiva, Débora compartilha sua trajetória, os desafios de ser mulher em setores dominados por homens e lições de educação financeira para os jovens que estão começando a vida profissional.

Ela falou com Maria Eduarda P., de 15 anos, aluna da PEI Josué Benedicto Mendes, de Osasco. Confira como foi a conversa.
O que te motivou a fazer a faculdade de jornalismo e a de economia ao mesmo tempo?
O jornalismo era um sonho que tinha desde pequena. Eu gostava de escrever e lembro que, 4ª série, a professora sempre me chamava para ler as redações na frente da turma e eu adorava. E queria ser jornalista. A economia surgiu por uma questão prática: eu precisava me sustentar e ouvia muito que no jornalismo era difícil começar, que precisava de indicação. Como eu tinha que pagar as contas e não podia depender só de sonhos, fui fazer economia também. Tinha um tio economista que eu admirava muito, então pensei que poderia ser um bom caminho.
Como foi conciliar trabalho e estudos?
Era uma época muito maluca na minha vida. Eu fazia três coisas diferentes em três regiões distintas da cidade: estudava jornalismo na Metodista, na região do ABC, na grande São Paulo, trabalhava no centro, no Banco Econômico, que hoje nem existe mais, e à noite ia para a Universidade de São Paulo, na Cidade Universitária, onde fazia economia. Eu morava na região do Horto Florestal, na zona norte, e não tinha carro, então, ficava o dia inteiro transitando pela cidade. Foi muito puxado, mas foi importante para me dar autoconfiança e provar que eu podia fazer isso.
Qual foi o papel da família na sua formação?
Minha família foi fundamental. Minha mãe sempre me incentivou muito a estudar. Aos sábados, ela ficava me dando ditado e cadernos de caligrafia. Minha avó, que não teve oportunidade de estudar, sentia muito orgulho e me impulsionava. Minha tia me pagou o curso de inglês quando eu tinha 10 anos, e meu tio sempre me ajudava quando precisava de algo. Não tive pai, mas tive várias pessoas que me apoiaram e foram fundamentais na minha formação.
Como o inglês influenciou sua carreira?
Saber falar inglês fluente me levou à posição que tenho hoje. Quando estava no banco, por ter inglês, me chamaram para trabalhar na mesa de importação e exportação, na área de câmbio. Hoje tenho equipes nos Estados Unidos, Argentina e Inglaterra, e operamos do Brasil à Austrália. O inglês abriu portas que eu nem imaginava que existiam.
Como você administrava seu dinheiro quando começou a trabalhar?
Era muito cuidadosa, porque quase tudo que eu ganhava ia para pagar a faculdade. Eu separava dinheiro para transporte, comer — tinha um bandejão no trabalho — e o resto ia para os estudos. Se sobrava algo, como décimo terceiro, eu guardava na poupança. Lembro que o primeiro tênis que comprei, parcelei em 12 vezes para não comprometer muito minha renda. Uma vez por mês, quando recebíamos o salário, eu e meus colegas de trabalho íamos ao McDonald’s tomar um sundae — isso era um luxo para nós.
Quais foram seu maior erro e maior acerto financeiro?
Não sei se tenho um maior erro, mas teve uma fase em que viajei muito e gastei mais do que guardei. Talvez pudesse ter poupado mais naquele período, porém não me arrependo porque também precisamos ter nossos respiros. O maior acerto foi sempre guardar dinheiro, mesmo que fosse pouco. Sempre tive pavor de me endividar porque vi minha mãe vivendo do cheque especial, penhorando joias. Isso me marcou muito.
Como é ser mulher em setores masculinos como tecnologia e bancos?
Sempre exige muito esforço. Estou em dois mercados muito masculinos. Talvez tenha tido sorte, nunca sofri preconceito direto, mas, às vezes, como mulher, temos que trabalhar mais para provar nosso valor. Talvez pela resiliência de quem já nasceu precisando batalhar muito, eu nunca parei ou me importei por ter muitos homens ao redor. Hoje trabalho numa empresa com quatro fundadores — dois homens e duas mulheres, Daniela e Juliana Binatti, que são grandes inspirações.
Qual projeto considera um divisor de águas na sua carreira?
Uma reportagem que fiz para a revista Época Negócios a respeito de lições de inovação da Coreia do Sul. Era sobre como um país se reergueu por intermédio de estudo e esforço. Fiquei 11 dias na Coreia, escrevi 26 páginas. Essa matéria ganhou dois prêmios: um da Editora Globo e outro, do Citibank, que me levou para estudar dez dias na Universidade Columbia, em Nova York, com jornalistas de todo o mundo. Foi um divisor de águas que mostrou que o esforço vale a pena.
Que conselho você dá a jovens que querem iniciar a carreira?
Estude tudo que puder, aproveite as oportunidades e conheça o máximo de pessoas possível. O networking foi essencial na minha vida — são as pessoas que conhecem seu trabalho que vão te indicar para oportunidades. E o último conselho: sempre faça o seu melhor. Se você fizer o seu melhor, alguém estará vendo e vai querer te indicar. Isso te faz crescer na carreira.