Gilberto Gil Passos é professor de matemática, mas já foi atleta, militar e músico. De família humilde, na qual falar de dinheiro era um tabu, Gilberto encontrou dificuldade no início da relação com o dinheiro. Quando passou a trabalhar e a ganhar o próprio salário, ele se endividou.
Essa situação só mudou quando colocou em uma planilha o quanto já havia pagado de juros para o banco. O susto com o valor o fez mudar e ajudar a transformar a realidade de sua família. E ele não parou por aí — criou a Olimpíada Brasileira de Investimentos (OBInvest), uma jornada educativa que já impactou mais de 10 mil alunos, de mil escolas de todas as regiões do país.
Nesta entrevista, ele contou um pouco de sua trajetória para Maria Eduarda S., de 14 anos, aluna do 9º ano da E. E. PEI Professor Orlando Geribola.
Com que idade você começou a trabalhar?
Na adolescência eu comecei a trabalhar dando aula de música, que eu sempre curti. Lecionava introdução ao violão para uns amigos. Eu me formei em violão clássico, dei aulas em escola de música. Depois entrei na vida militar, mas percebi que não era por ali que minha vida seguiria. Então comecei a pensar em outras possibilidades de carreira. Sempre adorei matemática, e música e matemática têm muito a ver. Assim, eu me tornei professor de matemática.
Quando surgiu seu interesse por educação financeira?
Eu sou professor desde 2006. Venho de uma família humilde, meus avós eram feirantes. Falar sobre dinheiro na minha família sempre foi um tabu. Dinheiro estava sempre ligado a dívidas. E, quando comecei a trabalhar, foi dessa maneira também, eu me endividei, porque esse era um comportamento que a minha família reproduzia. Um dia, voltando da escola onde trabalhava, eu passei em frente à minha agência bancária e pensei “Quanto que eu já paguei de juro para esse banco?”. Chegando em casa, coloquei na planilha somente os empréstimos e financiamentos de que lembrava e fiz a atualização monetária. Quando vi o resultado, levei um susto. O valor era suficiente para comprar um imóvel. A partir daquele momento, decidi fazer diferente. Esse foi o início da educação financeira na minha vida.
Em quanto tempo conseguiu ver os resultados?
Isso aconteceu depois de pouco mais de um ano. Levou um tempo para mudar o comportamento da família e começar a sentir os benefícios de ser organizada financeiramente. As pessoas costumam pagar juros porque querem usufruir de algo hoje. Elas pagam uma espécie de aluguel para ter o dinheiro antes da hora. Mas precisam saber que é possível virar o jogo e deixar de ser um agente deficitário, que consome antes, para se tornar um agente superavitário, que investe o dinheiro hoje para usufruir dos juros no futuro.
Como você criou a OBInvest?
Quando vi que a educação financeira estava mudando a minha vida, eu decidi que ia levar esse conhecimento para os meus alunos, porque isso poderia mudar a vida deles. Assim que começavam a entender, eles adoravam e pediam mais. Como eu já era um grande incentivador de olimpíadas do conhecimento, fui procurar uma competição ligada a esse tema. Encontrei a Olimpíada de Educação Financeira da Paraíba, que depois virou uma competição nacional. Decidi criar uma versão mais voltada a investimentos, e organizamos a OBInvest, em 2020.
Como funciona a competição?
Diferentemente da maior parte das olimpíadas, a OBInvest não testa conhecimento. Criamos uma metodologia que ensina ao longo da prova. Ensinamos os conceitos de finanças e economia que são usados para responder as questões. Se você pega uma prova, as questões normalmente têm vídeos explicando determinados conceitos. Eu brinco que a OBInvest não testa conhecimento, ela testa aprendizagem. Mede quem aprende mais. Ensinamos também a usar planilhas eletrônicas como Excel e Google Sheets e damos conceitos básicos de programação com linguagem Python.
Em 2024 haverá alguma novidade na competição?
A ideia para 2024 é fazer uma Olimpíada nos mesmos moldes, porém teremos uma espécie de simulador de gestão de carteira. Esse simulador, que eu estou construindo, vai traçar um cenário, e os competidores criarão a estratégia de investimento a partir disso.
Como os jovens podem tirar mais proveito da educação financeira?
O melhor investimento que os jovens podem fazer é no próprio desenvolvimento. Fazer uma aplicação financeira é importante, mas buscar cursos e investir em experiências vai te engrandecer como profissional e você vai ser mais bem remunerado no curto prazo, em consequência dessa capacitação. É um investimento 100% em você para começar um crescimento exponencial capaz de mudar a sua vida.
