Pecuária no Brasil (Foto: Getty Images) Pelo sétimo ano consecutivo, o número de bois no Brasil é maior que o de pessoas. Segundo dados do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), o país encerrou 2024 com 238,2 milhões de cabeças de gado, enquanto a população foi estimada em 212,6 milhões de habitantes. A diferença, de cerca de 12%, simboliza o peso da pecuária na economia nacional. Mas tem jogado luz sobre os dilemas que essa vocação impõe ao meio ambiente e à própria sustentabilidade do setor.
Mesmo com a supremacia bovina, o rebanho registrou uma queda de 0,2% em relação a 2023, reflexo do chamado “ciclo pecuário” — períodos em que os produtores aumentam o abate de fêmeas para ajustar a oferta e manter a rentabilidade diante das oscilações de preço. Ainda assim, o Brasil segue na liderança global da produção de carne bovina e figura entre os maiores exportadores do mundo.
A distribuição do gado pelo território mostra a força do agronegócio no Centro-Oeste e no Norte do país. Mato Grosso continua como o maior rebanho estadual, com 32,9 milhões de cabeças, seguido por Pará (25,6 milhões) e Goiás (23,2 milhões). Esses três estados concentram quase um terço de todos os bovinos brasileiros.
A pecuária é um dos motores da economia: movimenta cadeias de insumos, gera milhões de empregos diretos e indiretos e tem papel crucial na balança comercial. Mas o dado que revela mais bois que gente também serve de alerta. O modelo de criação extensiva, que depende de grandes áreas de pastagem, está entre as principais causas de desmatamento e emissões de gases de efeito estufa no país. Segundo especialistas, o desafio é combinar produtividade com práticas sustentáveis, reduzindo o impacto ambiental sem comprometer a competitividade do setor.
Nos últimos anos, vêm ganhando espaço iniciativas de integração lavoura-pecuária-floresta, sistemas de pastagem regenerativa e projetos de rastreabilidade que permitem comprovar a origem e o padrão ambiental da carne brasileira. Ainda assim, a transição é lenta e desigual, com avanços concentrados em propriedades de maior porte ou voltadas à exportação.
O contraste entre o tamanho do rebanho e a população humana revela, em última instância, o papel central do campo na formação econômica e cultural do Brasil. De um lado, o gado representa prosperidade, tradição e poder de produção; de outro, expõe os limites de um modelo que precisa se reinventar diante das pressões climáticas e sociais do século 21.
Fonte: Folha de S. Paulo.


