No início de setembro, a Rússia suspendeu por tempo indeterminado o fornecimento de gás natural pelo Nord Stream 1, o maior gasoduto entre o país e a Europa. A decisão acendeu um alerta em todas as nações do continente, pois aumenta o risco de desabastecimento durante o inverno, prejudicando a população e aumentando os riscos de recessão.
Na Europa, especialmente durante o inverno, o gás natural é muito necessário para aquecer as casas. Nas indústrias, ele é a fonte de energia para linhas de produção. Por ser mais limpo do que óleo diesel e carvão, é hoje a principal opção das empresas. Essa preferência fez os países europeus se tornarem dependentes da Rússia, que é a grande fornecedora do recurso dentro do continente. Estima-se que 40% do gás utilizado na região venha de lá.
A decisão russa foi motivada pela guerra na Ucrânia. No início do conflito, diversas sanções econômicas foram impostas pela União Europeia e nações como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Os líderes do Kremlin afirmam que só vão retomar o fornecimento de gás quando essas sanções forem retiradas.
Preocupados, alguns países já procuram alternativas. A Alemanha conseguiu reduzir sua dependência do gás russo de 55% para 35% com a utilização de outras fontes de energia. A França prepara um plano de racionamento que pode deixar a população sem energia duas horas por dia. O Reino Unido prevê restrições no fornecimento de gás à indústria e a centrais elétricas. Outra opção dos europeus tem sido recorrer à importação do gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos. O volume comprado já aumentou em 15 bilhões de metros cúbicos este ano.
Desaceleração na Europa
Economistas já dão como certa uma forte desaceleração da economia europeia no segundo semestre de 2022. O preço elevado do gás não afeta só as empresas. As famílias também são diretamente atingidas pelo aumento do preço. Afinal, o gás natural — especialmente no inverno — é um recurso indispensável, ou seja, não é possível deixar de consumi-lo. Como o gasto com o gás será maior, o poder aquisitivo das pessoas será reduzido, desacelerando a economia. “Teremos uma queda do consumo, que vai se refletir no PIB da Europa no segundo semestre”, diz Francisco Nobre, economista da XP.
Tem saída?
A solução para essa crise passa por um acordo entre Rússia e demais países da Europa. Vladimir Putin se mostra irredutível, e parte dos países, por sua vez, tem preferido medidas alternativas a aceitar as condições do Kremlin. Alguns governos da União Europeia e o Reino Unido irão subsidiar parte dos gastos com gás para famílias e empresas. O total investido deve chegar a U$ 500 bilhões (R$ 2,5 trilhões).
Como a crise afeta o Brasil
O Brasil não depende do gás russo. O gás consumido aqui vem da Bolívia, pelo gasoduto Brasil-Bolívia, mas o futuro é incerto. Uma desaceleração mais acentuada na economia global pode gerar impacto em médio e longo prazos. “No curto prazo, a economia brasileira continua mostrando bastante força, surpreendendo analistas e economistas. Mas uma desaceleração na Europa, que é uma das principais potências econômicas, pode afetar todos no futuro”, afirma Nobre.
