
Natural de Varginha, cidade ao sul de Minas Gerais, Victor Cabral cresceu em uma família de empreendedores. O pai, fotógrafo especializado em casamentos, e a mãe, que tinha uma loja de roupas, sempre investiram na educação do filho. Aos 14 anos, ele conseguiu uma vaga no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), passando em primeiro lugar no processo seletivo.
Foi lá que Victor teve o primeiro contato com programação e desenvolvimento de aplicativos. No 3º ano, em uma disciplina específica sobre o tema, criou com colegas um programa para sortear times de futebol, o Meu Fut, que chegou a ter mil usuários e até recebeu uma proposta de parceria do Mercado Pago.
Inspirado pelo sucesso inicial, o estudante decidiu estruturar algo sozinho: o embrião do app Cofrinho surgiu em 2017, quando ele fazia um trabalho para uma disciplina de desenvolvimento de aplicativos. A proposta era simples: um contador virtual para guardar pequenas quantias e acompanhar depósitos e retiradas. “Eu gostava de design e ficava orgulhoso de desenhar as moedinhas no Photoshop”, diz.
O programa, ainda rudimentar, conquistou público. Chegou a 40 mil downloads e, no auge, 2 mil pessoas o utilizavam mensalmente. “Achava incrível ter tanta gente entrando em um aplicativo que eu tinha feito.”
Apesar da boa recepção, Victor não enxergava potencial de negócio e deixou o projeto de lado ao ingressar na Universidade Federal de Lavras (Ufla). Paralelamente, trabalhou em uma startup de saúde, a WeCancer, processo em que conheceu seu mentor, César Filho. Foi ele quem o incentivou a retomar o Cofrinho, enviando a Victor artigos sobre educação financeira e endividamento no Brasil.
A decisão de deixar o emprego para estabelecer o próprio negócio não foi fácil. “Estava numa carreira ascendente, poderia ter virado sócio na startup em que trabalhava, mas pensei: ‘Vou chegar aos 70 anos e me arrepender de não ter tentado’.”
Motivado, Victor começou a redesenhar o aplicativo e buscar investimento. Foi quando conheceu Bruno Luna, seu sócio, economista e dono da página Economia Decifrada, no Instagram. “Juntamos forças: eu com a tecnologia e ele com investimento e conhecimento em economia.” A nova versão do Cofrinho foi lançada em outubro de 2023.
O crescimento foi imediato: os downloads saltaram de 50 mil para 100 mil, depois 200 mil, 300 mil, até ultrapassar meio milhão. E o número de usuários ativos hoje é de 33 mil.
Desafios e conquistas
O ano de 2024 trouxe um importante reconhecimento. A startup foi aprovada no programa TD Impacta, iniciativa do Tesouro Direto com a B3. Das 505 inscrições, apenas dez startups foram selecionadas. O Cofrinho ficou entre as cinco finalistas, que dividiram 1,1 milhão de reais em investimentos.
O app ainda não atingiu o breakeven, mas segue firme em busca dessa meta. As principais fontes de receita são anúncios no aplicativo e parcerias institucionais. “Nosso objetivo é ser o Duolingo da educação financeira”, diz Victor.
O que o Cofrinho faz imagens de telas no drive
1. É um aplicativo de educação financeira gamificada voltado principalmente a jovens entre 11 e 18 anos.
2. Permite criar metas de poupança de forma simples, simulando depósitos e retiradas.
3. Oferece trilhas de aprendizado em finanças pessoais, com quizzes e desafios.
4. Usa mecânicas de jogo para estimular o hábito de economizar, com sistema de pontos e penalidades quando o usuário erra questões.
Também quer empreender? Confira as dicas de Victor.
1. Olhar para o mundo com atenção. “As ideias estão nos problemas do dia a dia. Repare no que as pessoas precisam.”
2. Não ser preciosista demais. “Se eu não tivesse travado por achar a primeira versão do Cofrinho feia, ele poderia ter crescido muito antes.”
3. Valorize as conexões. “Empreender é tanto sobre ser bom como sobre mostrar que é bom. Conversar com pessoas, pedir conselhos e aparecer nos eventos sempre traz oportunidades.”
GLOSSÁRIO
Breakeven: termo muito usado no universo das startups, significa o ponto de equilíbrio de uma empresa, quando as receitas passam a cobrir todos os custos e despesas, marcando o momento em que o negócio deixa de dar prejuízo e começa a gerar lucro.