Jay Tompt em dinâmica com alunos na escola Josué Benedicto Mendes, em Osasco A economia pode ser reinventada. E para um número crescente de pessoas, essa reinvenção começa ao lado (literalmente). A REconomia é um movimento internacional que vê a atividade econômica não como troca de dinheiro, mas como a arte de “cuidar da casa”. Para os defensores da proposta, a casa pode ser o nosso corpo, a comunidade que está no nosso entorno e o planeta.
Ao longo do mês de novembro, o Jay Tompt, pesquisador da Schumacher College, no Reino Unido, e um dos cofundadores do movimento da REconomia, participou de diversos eventos no Brasil para conversar com jovens sobre esse novo jeito de pensar prosperidade.
Uma das paradas foi a Escola Estadual Josué Benedicto Mendes, em Osasco, onde o Tino Econômico acompanhou uma tarde de exercícios, conversas e trocas que mostraram, na prática, como a REconomia funciona.
A visita foi organizada pela Umma Hub, rede de empreendedores e organizações que atuam em iniciativas regenerativas no Brasil.
O que é REconomia
Embora o termo ainda soe novo para muitos, a reeconomia nasce de uma ideia antiga: a raiz grega de “economia”, oikonomía, significa literalmente cuidar da casa. Para Tompt, vivemos há décadas como se economia fosse apenas dinheiro. E isso reduz nossa visão de mundo. “A primeira casa é o nosso corpo. A segunda, a nossa moradia. A terceira é o planeta”, explicou ele aos estudantes. “Cuidar da casa é simples e complexo ao mesmo tempo e é isso que a economia deveria ensinar.”
Esse conceito não surgiu dentro do movimento global Cidades em Transição, criado na Inglaterra em 2005 por grupos comunitários que buscavam formas de fortalecer a autonomia local e reduzir a dependência do petróleo. “O conceito é o braço do movimento da transição para pensar uma economia relocalizada, resiliente e regenerativa”, explica Melissa Bivar, idealizadora e cofundadora da Umma, um hub de negócios regenerativos.
Segundo ela, três pilares — relocalização, resiliência e regeneração — ajudam comunidades a criar sistemas econômicos que cuidam da vida.
Relocalização
Para Melissa, relocalizar não é um conceito abstrato, mas uma mudança de comportamento. “Quando eu coloco dinheiro em algo, estou sustentando aquela cadeia produtiva. A pergunta é: que cadeia é essa?”
Ela alerta que, sem perceber, muitas pessoas financiam práticas insalubres, trabalho análogo à escravidão ou cadeias que agravam a crise climática. Comprar de quem está próximo, por outro lado, sustenta riqueza local e fortalece vínculos comunitários. “Quando eu compro da minha vizinha, eu sei de onde vem, sei como é produzido e esse dinheiro circula no meu território.”
Resiliência
A resiliência econômica aparece quando o território consegue produzir o essencial para a própria vida: comida, saúde, serviços, cultura. “Se o território tem seu sistema produtivo, ele não depende de outro lugar para existir”, diz Melissa. Essa autonomia cria segurança e reduz vulnerabilidades.
Regeneração
O terceiro pilar, a regeneração, é urgente diante do esgotamento dos ecossistemas do planeta. “A humanidade está degradando os sistemas vivos mais rápido do que eles conseguem se recuperar. Já ultrapassamos sete dos nove limites planetários”, alerta. Por isso, para ela, não basta mais “sustentabilidade”: “Se sustentarmos o que já tem, continuamos indo para o abismo. Agora precisamos apoiar os sistemas vivos a se regenerarem.”
As castanhas e a economia
Para traduzir essas ideias, Jay propôs aos alunos uma série de exercícios simples, mas cheios de significado.
No primeiro momento, ele pediu que os participantes andassem pelo auditório — um espaço que frequentam diariamente — com um objetivo: observar o que nunca tinham percebido. “Antes de fazer diferente, é preciso acalmar e prestar atenção”, explicou após a experiência.
Depois, o ritmo mudou: Jay pediu que todos acelerassem, andando tão rápido quanto possível. O clima mudou imediatamente. “Quando a gente anda rápido demais, bate nos outros, não olha ninguém nos olhos, não pede desculpa.”
O contraste simbolizava dois modelos de sociedade: 1. o acelerado e desconectado, e 2. o atento e cooperativo.
Em seguida, veio o exercício que revela a essência da economia. Ele entregou duas castanhas a dois alunos. Quem quisesse uma castanha precisava olhar nos olhos da pessoa que a segurava e fazer um elogio sincero. Quem recebia o elogio ia até um canto da sala onde uma aluna anotava os elogios um a um.
No exercício, não havia banco, cartão ou aplicativo, mas havia valor sendo criado. Valor emocional, simbólico, comunitário. “A base de todo dinheiro é um acordo social de confiança. Palavras gentis também são riqueza. Elas circulam, transformam, criam bem-estar e mostram que podemos gerar nosso próprio valor, explicou o pesquisador”.
A dinâmica é uma representação do que a REconomia defende: valor que nasce das relações, não do acúmulo. A proposta dialoga com experiências reais de moedas sociais e sistemas de crédito comunitários que surgem no mundo todo. “A base de todo dinheiro é um acordo social de confiança. Palavras gentis também são riqueza, elas circulam, transformam e criam bem-estar”, disse Tompt.

O poder do pequeno
A Schumacher College, onde Jay leciona, é um centro global de pensamento sobre economias regenerativas há mais de 50 anos. Desde a publicação do livro Small Is Beautiful (“O Grande negócio é ser pequeno: Estudos sobre uma economia em que as pessoas são importantes”), o local se dedica a desenvolver formas de prosperidade baseadas em simplicidade, cooperação e escala humana.
No Brasil, o objetivo do pesquisador era incentivar jovens a perceber que a mudança não precisa começar no governo ou em grandes empresas. Ela pode começar na escola, no bairro, na família. “Não podemos transformar a economia inteira, mas podemos transformar a nossa comunidade”, disse.


