
Gabriel Almeida tem 19 anos e está cursando biologia molecular em Princeton, uma das universidades mais respeitadas dos Estados Unidos (EUA), com bolsa integral. Filho de baianos que migraram para São Paulo em busca de melhores oportunidades, o jovem do Grajaú estudou em escola pública até conhecer o Instituto Social Para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart), que ofereceu a Gabriel uma bolsa de estudos para o Colégio Bandeirantes. O instituto é uma organização sem fins lucrativos que se dedica a identificar jovens talentos de famílias de baixa renda, com idade entre 12 e 15 anos, e oferece bolsas de estudo em escolas particulares de excelência, além de acesso a programas de desenvolvimento e orientação profissional. Nesta entrevista dada à aluna Yasmin, de 15 anos, do 1º ano do ensino médio da PEI Josué Benedicto Mendes, ele contou sobre o momento da aprovação e os desafios de morar sozinho em outro país, além de dar dicas para quem sonha em estudar no exterior.
Como foi o momento em que você recebeu a notícia de que tinha sido aceito em Princeton?
Meu sonho desde os 9 anos era passar na USP [Universidade de São Paulo] e acabei não passando. Quando saiu a última lista e vi que não tinha chance de ser chamado, eu já comecei a me preparar para ir para São Carlos, onde ficava a faculdade em que tinha sido aprovado. Eu já tinha sido rejeitado em Harvard e outras instituições internacionais, e minha esperança de ingressar em Princeton era mínima. Quando soube, eu fiquei pálido. A primeira coisa em que pensei foi “como vou falar com a minha família, que comprou roupa de cama, travesseiro e toalha para São Carlos?”. Recarreguei a página várias vezes achando que era erro, tirei print. Mandei para amigos primeiro, porque não sabia como contar para os meus pais. Meu pai não queria que eu fosse para fora pela saudade. Quando contei, ele ficou em choque, começou a acordar minha mãe. Ela ficou felizona, mas meu pai ficou quieto a noite inteira se segurando para não chorar. No dia seguinte, foi meu baile de formatura, então virou uma grande comemoração.
O que foi determinante para você ser escolhido?
Minha história. Geralmente, quem se inscreve para Princeton não vem da periferia, não vem de escola pública. Quando eu contava nas entrevistas que era do Grajaú, todos olhavam tipo “esse cara é diferente”. Isso demonstrava um desejo genuíno de mudar de vida. Ninguém precisa me motivar porque eu já trago isso dentro de mim. Além das notas, fiz pesquisa no ensino médio, estágio na USP e sempre retribuí ajudando outros bolsistas, alunos mais novos. Princeton valoriza muito esse serviço comunitário.
Qual dica você daria para quem quer estudar fora?
Demonstre que você faz o máximo com o que tem. Mostre que com as oportunidades que teve, você deu o seu melhor. Isso faz a faculdade pensar: “Se com tão pouco ele fez tanto, imagina com os recursos que oferecemos”. E faça coisas que façam sentido para você, não copie a história de ninguém. Eles não querem dois “Gabriéis”, querem saber o que você tem de único. Se você copiar minha história, estará copiando alguém que eles já escolheram.
Como é morar sozinho em outro país?
O maior choque foi porque não fazia nada em casa. Não lavava roupa, não cozinhava. Tive que aprender tudo por videochamada com minha mãe. A saudade de arroz e feijão é bizarra. Outro ponto é fazer amizades. No Brasil é muito fácil, na fila do banco você já faz amigo. Aqui é mais distante, você tem que quebrar o gelo várias vezes. Mas estou me adaptando bem.
O que fez diferença na sua trajetória em relação a outras pessoas que têm a mesma realidade?
Pedir ajuda foi o que mais mudou minha vida. Antes eu achava que só teria sucesso se fizesse sozinho. Hoje penso o oposto. Sozinho você não chega lá.
Quais são seus planos para o futuro?
Quero seguir estudando biologia molecular e fazer doutorado, provavelmente em pesquisa. Mas deixo tudo em aberto. Também me interesso por filosofia e educação. Quero impactar o mundo de várias formas.
Como o Ismart mudou sua vida?
Eu quase não participei do projeto porque tinha medo de perder meus amigos. Hoje penso: “Como pensei em não fazer?”. Tudo que conquistei tem o Ismart na base. Estudei no Bandeirantes por causa do instituto, estou em Princeton porque estava no Band. Eles pagam mensalidade nas melhores escolas, transporte, alimentação, curso de inglês, programação, mentorias — tudo gratuito. Recomendo 100%. Esse senso de gratidão me move muito.
Qual mensagem você deixaria para jovens da periferia?
Sempre ouvi que dinheiro move o mundo, mas descobri que são pessoas que movem o mundo. No Band, eu não estava tendo aula com notas de cem reais, estava com os melhores professores. No fim, você procura pessoas para te ajudar. Conheci muita gente que move o mundo sem esperar nada em troca. Essas pessoas existem e fazem total diferença. Elas trazem o sentido para a vida que o dinheiro não traz. Procure por elas. E nunca deixe de estudar, porque essa é a forma mais confiável de superar barreiras. Estude, peça ajuda e faça o máximo com o que você tem.


