
Nos últimos meses, o crédito consignado ganhou espaço nos noticiários após a divulgação de denúncias de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Golpistas usavam dados de aposentados para contratar empréstimos sem autorização, deixando muitas pessoas com descontos indevidos em seus benefícios. O episódio revelou como esse mercado movimenta bilhões de reais e afeta intimamente a vida de milhões de brasileiros.
Mas o que é exatamente empréstimo consignado e por que ele costuma ser mais barato do que outras formas de crédito?
“O termo consignado quer dizer algo ‘vinculado’. No caso do crédito consignado, o vínculo é com o salário ou benefício do trabalhador”, diz o professor José Carlos Souza Filho, da FIA Business School. “Isso significa que, quando a pessoa recebe o pagamento, a parcela do empréstimo já vem descontada. O próprio empregador ou o INSS faz o repasse diretamente ao banco.” Essa é a grande diferença entre o consignado e outros modelos de crédito: o pagamento é feito com desconto direto no salário.
Quais as vantagens?
O fato de o desconto sair direto do salário traz vantagem para quem pede o dinheiro emprestado e para o banco que oferece o empréstimo. O risco de inadimplência é muito menor — por isso, os bancos cobram juros bem menores. “Mesmo recebendo menos juros, a maior segurança de que vão receber torna a operação segura”, diz Souza Filho.
Juros
Crédito direto ao consumidor -> 3,5% a 4% ao mês
Juros no consignado -> 1,25% a 1,75% ao mês
Pontos de atenção
Mas o fato de esse gênero de empréstimo ser mais vantajoso em termos de juros, não significa que seja um bom negócio. “A melhor alternativa é não precisar tomar esse recurso, mas, se precisar, o crédito consignado é uma opção de empréstimo mais vantajosa”, afirma Souza Filho.
Há limites para obter determinada quantia por essa modalidade. Por lei, a pessoa não pode comprometer mais do que 35% de sua renda com as parcelas. “É um percentual bastante elevado”, observa o professor. Por isso, ele alerta: ao realizar um empréstimo, a pessoa está sempre comprometendo a renda futura. Ou seja, pega o dinheiro hoje, mas terá menos recursos disponíveis nos meses seguintes. Além disso, é fundamental pesquisar. Diferentes bancos cobram taxas variadas, e é possível negociar.
O que acontece em caso de demissão?
Se uma pessoa que contratou um empréstimo consignado perder o emprego, existem alternativas para que a dívida não fique em aberto. A primeira é ter contratado um seguro específico no momento do empréstimo. Nesse caso, mesmo que seja necessário pagar uma parcela um pouco maior durante o contrato, o seguro garante a quitação da dívida em caso de demissão, evitando que o trabalhador se torne devedor.
Outra possibilidade é usar parte das verbas rescisórias recebidas quando ocorre a demissão. A legislação permite que esses valores podem ser direcionados para o pagamento do empréstimo. Assim, o trabalhador consegue quitar ou, pelo menos, amortizar a quantia devida, reduzindo o peso da dívida no orçamento.
A portabilidade é mais uma opção: se o trabalhador consegue um novo emprego rapidamente, pode transferir o desconto das parcelas para o novo empregador, desde que a empresa mantenha convênio com o banco que concedeu o crédito.
Do que você precisa saber sobre empréstimo consignado
- O desconto é feito direto no salário ou na aposentadoria.
- Juros mais baixos: até metade da taxa de um empréstimo comum.
- Limite legal: máximo de 35% da renda comprometida.
- Em caso de demissão: seguro, uso da indenização ou portabilidade da dívida.
- Atenção: mesmo com vantagens, o consignado significa comprometer a renda futura.
GLOSSÁRIO
Amortizar: diminuir uma dívida aos poucos, pagando parte do valor principal.
Verbas rescisórias: são os valores que um trabalhador tem direito a receber quando o contrato de trabalho acaba, seja por demissão, seja por pedido de desligamento.