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Por que os EUA querem investigar o Pix e a 25 de Março

EUA avaliarão se o meio de pagamento brasileiro prejudica companhias norte-americanas como Visa e Mastercard
16 de julho de 2025 em Nacional
Rua 25 de Março, em São Paulo: centro popular de compras. Foto: Getty Images

O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) divulgou oficialmente, em 15 de julho, o relatório que formaliza o início de uma investigação, já citada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre eventuais práticas adotadas pelo Brasil que possam prejudicar empresas e trabalhadores norte-americanos.

Entre os temas investigados, estão o Pix e a rua 25 de Março, o que a chamou atenção e gerou dúvida em muita gente. Por que algo tão particular do mercado brasileiro atrapalharia o mercado dos EUA?

Pix na mira

Segundo a carta do USTR, o sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, o Pix, amplamente usado no Brasil, atrapalharia a atuação de empresas privadas estrangeiras no mercado de pagamentos. Hoje, quando um consumidor faz um pagamento com Pix, não precisa usar cartão de crédito, portanto, dispensa o serviço de pagamento como Visa e Mastercard, ambas norte-americanas.

Para o governo dos EUA, isso pode significar que o Brasil está impondo barreiras “injustas ou discriminatórias” para companhias de lá e favorecendo, direta ou indiretamente, a solução estatal.

Rua 25 de Março e a pirataria

Já a citação da rua 25 de Março, em São Paulo, tem a ver com a pirataria. No relatório, os EUA acusam o Brasil de ser leniente no combate à pirataria e ao comércio de produtos falsificados, sendo a rua paulistana o maior símbolo dessa prática.

Para os EUA, isso lesa organizações norte-americanas cujas marcas são alvo de falsificações de eletrônicos a artigos de moda e brinquedos. Além disso, enfraquece os acordos internacionais de proteção à propriedade intelectual dos quais o Brasil é signatário.

Etanol e desmatamento ilegal

A carta também cita a desigualdade no tratamento do etanol norte-americano e o desmatamento ilegal, que prejudicaria as companhias dos EUA.

O documento diz que o Brasil estaria aplicando tarifas mais altas sobre o etanol importado dos EUA do que as que incidem sobre o etanol produzido em países com acordos comerciais preferenciais como Índia e México. Para os norte-americanos, isso cria um ambiente de concorrência desleal.

Além disso, o documento aponta que o Brasil oferece incentivos e políticas de apoio à própria produção de etanol — especialmente a partir da cana-de-açúcar — que dificultariam ainda mais a entrada do biocombustível norte-americano, majoritariamente produzido a partir do milho.

A alegação é de que essas medidas estariam em desacordo com os compromissos do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) e configurariam uma barreira comercial injusta.

Sobre o desmatamento, o relatório cita dados de 2024 que mostram que cerca de 91% da prática no Brasil foi classificada como ilegal. Os EUA argumentam que a falha em coibir esse tipo de atividade gera impactos ambientais globais e desequilibra a competição no comércio internacional.

A lógica é a seguinte: ao permitir a produção agrícola em áreas desmatadas ilegalmente — com menor custo e sem cumprimento de normas ambientais rigorosas — o Brasil estaria oferecendo produtos mais baratos no mercado global, como carne, soja e madeira, prejudicando produtores de outras nações que cumprem regras ambientais mais rígidas.

Essas acusações fazem parte de um processo mais amplo de investigação, que pode resultar em sanções comerciais, como tarifas mais altas ou restrições a produtos brasileiros.

O governo do Brasil, por sua vez, afirma que prepara uma resposta diplomática para evitar perdas econômicas.

Fontes: Folha de S.Paulo e O Globo.

 Menina com celular. Foto criada por diana.grytsku - br.freepik.com

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