Estamos numa bolha de IA? Imagem: Getty Images A inteligência artificial (IA) virou a menina dos olhos do mercado. Em poucos anos, a tecnologia passou de curiosidade a motor de uma corrida bilionária. A Microsoft, que renovou a parceria com a OpenAI (criadora do ChatGPT), alcançou 4 trilhões de dólares (em torno de 22 trilhões de reais) em valor de mercado.
A Nvidia, que fabrica os chips usados para treinar sistemas de IA, já vale 4,7 trilhões de dólares (25,3 trilhões de reais). Mas tanto sucesso começa a gerar desconfiança: será que estamos vivendo uma bolha da IA?
O que é uma bolha?
Para entender o risco atual, vale lembrar um caso famoso: a bolha das pontocom, que explodiu em 2000. Naquele ano, estavam surgindo muitas empresas de internet. Qualquer negócio que tivesse um site e colocasse “.com” no nome atraía investidores.
Essas empresas ganhavam investimentos bilionários mesmo sem lucro, produto ou modelo de negócio, e o valor das ações disparava. Durante alguns anos, o dinheiro jorrou. Mas, quando os investidores perceberam que muitas dessas iniciativas não tinham base sólida, veio o “estouro da bolha”: as ações despencaram, empresas quebraram e bilhões de dólares evaporaram.
Uma bolha acontece quando o valor de algo — uma empresa, uma ação, um setor — cresce muito rapidamente, impulsionado mais por expectativa e modismo do que por resultados reais. Quando a realidade chega, o preço cai de forma brusca.
Vivemos uma “bolha da IA”?
Agora, o alerta volta com força. O Banco da Inglaterra e o Fundo Monetário Internacional (FMI) já advertiram que muitas empresas de IA estão sendo avaliadas acima do que valem de fato. Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts mostrou que 95% dos investimentos em IA não geram retorno. Mesmo assim, os aportes continuam crescendo.
Exemplos não faltam: a Nvidia anunciou investimento de 100 bilhões de dólares na OpenAI, que, por sua vez, usa esse dinheiro para comprar chips da própria Nvidia. A Oracle assinou contrato de 300 bilhões de dólares (540 bilhões de reais) com a OpenAI para fornecer serviços de nuvem. A Qualcomm, rival da Nvidia, lançou novos chips e viu as ações subirem 11% em um único dia.
O resultado é uma teia complexa de relações, em que empresas investem umas nas outras, elevando artificialmente seus valores.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, disse ao jornal O Globo que o cenário atual tem exageros, mas não é idêntico ao da virada do milênio. “Hoje, as gigantes de tecnologia têm geração de caixa, negócios sólidos e capacidade de investir em inovação”, diz. Ele compara o momento a um superciclo de investimentos semelhante ao que financiou o avanço do 3G, 4G e 5G.
Na bolha das pontocom, muitas empresas se endividavam para investir. Agora, os recursos vêm do mercado acionário, o que reduz o risco de colapso financeiro imediato.
Mesmo assim, se houver uma correção nos preços, o impacto pode ser grande. “O efeito sobre a riqueza dos investidores nos Estados Unidos afetaria o consumo e poderia frear a economia global”, afirma Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e membro sênior do Policy Center for the New South ao jornal.
Por enquanto, a valorização segue firme. Grandes nomes, como Sam Altman (OpenAI) e Jeff Bezos (Amazon), reconhecem que há exageros, mas apostam que os investimentos atuais vão gerar inovações transformadoras no longo prazo.
O problema é saber quais dessas apostas realmente darão lucro e quais acabarão como muitas empresas da era pontocom: promissoras no papel, mas vazias por dentro.
Fonte: O Globo.


